#35 - qual o tamanho da sua zona de conforto? 🍎
ou as mudanças que fazemos para nos deixar confortáveis
esse é um vaso de planta frutífera! pode levar os frutos que vc colher para casa :)
Eu não me considero uma pessoa supersticiosa. Não acho que o número 13 dá azar (já falei disso aqui), não acho que deixar o chinelo virado fará minha mãe morrer e muito menos que a mão invisível do mercado consegue controlar a economia. Ainda assim, é inevitável: inícios de ano me fazem querer mudar algo. Acho que toda essa atmosfera de ano novo, vida nova me pega mais do que eu gostaria de admitir.
E em 2025 eu decidi mudar. E dessa vez, é uma mudança bem grande.
Antes, o bom e velho contexto
Em 2021, segundo ano da pandemia de COVID, eu voltei a morar na casa da minha mãe. Não fazia sentido continuar morando perto da UFMG em BH sendo que o meu mestrado estava praticamente parado. Eu não podia ir ao laboratório fazer os testes que eu precisava (muita gente não sabe, mas sou engenheiro químico de formação — é, eu sei, nada a ver). Por isso, na época, o mais racional era voltar para um lugar onde eu tivesse menos gastos e um maior contato humano decente, já que no isolamento eu praticamente só conversava com a pessoa no caixa do supermercado quando saía de casa uma vez por semana.
“É provisório”, eu pensava. “Fico lá por um ano, até terminar o mestrado e aí sigo caminho pela escrita. Em breve voltarei para BH.”
Voltar para a casa da minha mãe, por mais que fosse bom no sentido afetivo e financeiro, não foi algo fácil. Eu, com meus 30 anos, voltaria a morar com minha família depois de 10 anos morando sozinho. Já tinha morado até no exterior! Esse retorno, não vou mentir, tinha um gostinho de derrota lá no fundo da garganta.
Era como se eu tivesse fracassado. Pulei, abri minhas asas, conheci muitos lugares e pessoas, mas no fim das contas, o voo era grande demais para as minhas asas pequenas.
A pior parte é que essa sensação é completamente irracional. Por que isso seria um fracasso? Minha mãe me ama, nossa convivência é pacífica e ela adorou o meu retorno. Minha querida e falecida vó, especialmente, ela só faltou chorar de emoção ao saber que eu estava vindo morar com ela. Claro que havia desafios, mas no geral, eu estava até confortável.
E ainda assim ficava a sensação de derrota.
É fácil dizer que é culpa da sociedade, que ela que nos obriga a sair logo da casa dos nossos pais, fazer uma faculdade e ganhar o mundo. Podemos culpar também as redes sociais, que mostram os amigos “bem-sucedidos” — em outras palavras, ganhando bem, o único fator de sucesso para o modelo capitalista —, morando em casas que eles compraram ainda nos seus vinte-trinta e poucos anos. Podemos culpar ainda as nossas expectativas, que são, em larga escala, construídas com base nos outros dois pontos. Podemos culpar tudo isso, mas no fim, escolhemos culpar a nós mesmos.
Aí você já consegue imaginar a bola de neve.
Depois de quatro anos morando com minha mãe, não sinto mais a sensação de fracasso e não me culpabilizo. Foi um momento importante para mim, um momento de recolhimento para me reconectar comigo mesmo. Um lugar que sempre me acolheu — reconheço o meu privilégio, pois muitas pessoas não têm isso — e que eu sei que será sempre um ponto para onde posso retornar. Durante esses anos eu também aprendi que não há nada de errado em morar com os pais. Não é vergonha, pelo contrário, pode ser confortável. Não é perfeito, brigas e desentendimentos vão ocorrer e as diferenças sempre existirão, mas até isso pode ajudar a nos mostrar quais dos nossos traços e vontades são genuinamente nossos e quais são reflexos dos nossos pais.
Depois de quatro anos, só decidi sair novamente de casa porque outros fatores passaram a importar nessa minha nova realidade. O principal deles é a distância. Minha mãe mora na região metropolitana de BH, então fica um pouco longe para quem não dirige — e não quer dirigir, parte importante — dos lugares que quero visitar e, mais importante, da minha namorada. Logo, me mudar me pareceu a melhor opção. E confesso, já era algo que eu queria faz tempo.
expandindo a zona de conforto
Hoje, eu vi na rising — uma newsletter sobre reflexões e auto conhecimento sem ser muito coach — um conceito que achei bem interessante:
E se em vez de sair da zona de conforto, uma das recomendações favoritas dos gurus de internet, a gente ampliasse ela?
Morar com minha família foi um exercício assim. No início, havia incompatibilidade. Novos hábitos, costumes e, o pior para quem estava acostumado a morar sozinho, barulho. Pelo amor da Kate Bush, muito barulho. Com o tempo, fui aprendendo a contornar esses pontos, seja usando a Alexa para abafar as vozes externas, seja jogando atividades que exigiam mais concentração para as primeiras horas da manhã. O que antes parecia impossível, se tornou uma nova rotina. A zona de conforto cresceu um pouquinho mais.
Temos um medo natural do desconhecido, da mudança. No entanto, a maior certeza que temos é que a única constante no universo é a inconstância de tudo. Não dá para esperar que as coisas continuem sempre do jeito que estão. Precisamos nos mover na direção do que queremos, mas podemos fazê-lo de modo gradual, um passo de cada vez. Não precisamos, necessariamente, dar grandes saltos.
um novo voo
Se em 2021 eu estava com uma sensação de fracasso no fundo da garganta, em 2025 eu sinto um gosto novo. Não é algo fácil de definir. Tem um bocado de empolgação e expectativa, mas está misturado com medo e umas notinhas de ansiedade. Não sei se você já passou pela experiência de assinar um contrato de aluguel de imóvel. Olha, é de fazer qualquer um surtar. A lista dos e se é tão grande, que você começa a pensar que seria um milagre chegar ao fim período estipulado sem ter que vender um rim pra pagar as dívidas. Vou nem comentar da quantidade de vezes que já imaginei que pode acontecer um incêndio no apartamento e eu teria que pagar e… melhor não pensar nisso.

Ainda assim, é algo que eu quero fazer. 2025 começou da melhor forma possível, seguindo o final maravilhoso que foi 2024. E essa é uma parte muito importante. Acho que estou conseguindo dar esse passo com certa tranquilidade — ou surtando pouco —, pois tenho o apoio da melhor namorada do mundo — e só minha opinião importa. É impressionante o quanto ter uma base com quem contar te ajuda a ir mais longe.
Para 2025, meu foco será aumentar a minha zona de conforto lentamente. Você vai perceber que isso vai impactar na minha produção. Em vez dos dois livros que costumava publicar todo ano, dessa vez será apenas um. Nossos vasinhos aqui na estufa também serão um pouco mais raros, mas vou tentar trazer um por mês, porque aqui é o meu cantinho favorito na internet.
A meta é tornar minha zona de conforto imensa, assim nunca mais precisarei sair — muito — dela.
muito obrigado por chegar até aqui. espero que esse texto faça sentido para você e que te ajude a pensar um pouco na sua zona de conforto, não como um lugar do qual fugir, mas sim como uma possibilidade de expansão ^^
e estou curioso para ver o que você achou sobre o texto nos comentários 💜
Adorei a motivação de ano novo!
A vista da janela é linda mesmo!
Parabéns! Tudo vai se mover a seu favor!
Avante!
feliz 2025, rafa! desejo sucesso, realizações e muitas alegrias nessa nova etapa 🫶🏼